quarta-feira, 2 de abril de 2008

Balanço da atuação do FGEPS na IV Plenária Nacional

Companheiros da ES no Rio Grande do Sul e no Brasil,

Primeiramente gostaria de dizer que estas linhas são uma primeira avaliação, de caráter um pouco pessoal até o momento, que ainda esta para ser amadurecida e refletida com outros companheiros. Pretendo apresentar elementos de balanços, mas também relatos de situações que eu mesmo vivenciei neste processo da IV Plenária Nacional de Economia Solidária.
Minha experiência de militante político-social se originou no movimento estudantil e na participação no Partido dos Trabalhadores, e em todas as frentes de lutas dos últimos 12 anos. Infelizmente, acontecimentos que ocorrem no final de nossa plenária (e durante toda ela) não me surpreendem, pois já vi muitas vezes isso acontecer.
Do ponto de vista político, rompi com este partido (não por achar que seus milhares de militantes não servem, mas por não acreditar que este instrumento possa ser recuperado e servir a luta dos trabalhadores) e tenho voltado meus esforços para trabalhos concretos com catadores, agricultores, e grupos populares, que se organizem como empreendimentos de economia solidária. Mas trago minha experiência anterior para analisar o que houve, como o Fórum Gaúcho de Economia Popular Solidária (FGEPS) se portou (e porque), além de outros setores e organizações, umbilicalmente ligadas ao governo federal.

Vamos aos Fatos:
1) Alguns integrantes da coordenação do FGEPS acusam a comissão de sistematização de não ter aceitado as resoluções do RS, o que caracterizaria um boicote por parte da coordenação nacional.
Diversos e-mails trocados na lista do FGEPS já deixaram claramente que nossa comissão de sistematização não enviou nosso relatório no período completo. Os companheiros Milton, Luciano e Richard (e outros, mas vou citar com mais ênfase estes três, por entender que cumpriem um papel de direção política do grupo que hoje tem a maioria da coordenação do FGEPS) sustentam que as resoluções gaúchas poderiam ser incluídas no documento base da plenária nacional, porque enviaram em tempo hábil o texto “Programa de Desenvolvimento Democrático e Socialista” que em nossa plenária de Santa Vitória do Palmar foi apresentado assinado por Luciano e Milton e foi aprovado, como uma das resoluções. No entanto, o quadro síntese de nossas resoluções, que incorporava aquilo que de fato se produziu coletivamente na Plenária gaúcha, onde além dos elementos chaves do texto citado, haviam outras contribuições para o eixo de Produção, Comercialização e Consumo Solidário (PCCs), também haviam as demais contribuições dos outros eixos.
Portanto, não podemos considerar que nossas resoluções foram enviadas a comissão de sistematização, sem que este quadro síntese tenha ido. Além do mais, a metodologia da Plenária Nacional foi construída nas instâncias democráticas do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), sendo que os companheiros Milton, Richard e Luciano (e outros) insistiram em fazer diferente, desrespeitando todo acumulo coletivo de 5 anos de FBES, que se traduziam nos eixos.
De minha parte, tive acordo em muitos pontos apresentado no texto, propus que entrassem no quadro síntese (Câmaras Setoriais, Mercados Socialmente Orientados, por exemplo), e também apoiei o envio do texto, como uma de nossas contribuições para o debate. Mas em nenhum momento, eu ou qualquer outro militante da ES do RS pode dizer que as nossas resoluções se resumiam apenas ao documento de Luciano e Milton aprovado. Portanto, as resoluções gaúchas não foram enviadas.
Poderia abrir um ponto de balanço sobre a realização de nossa plenária em Santa Vitória do Palmar, o que impediu a ida de diversos delegados dos fóruns que não tem estrutura, e também poderia criticar a postura de fóruns e entidades que se negaram a participar da plenária gaúcha (embora entenda seus motivos). Mas isto seria demorado, portanto, apenas concluo sobre isto de que se a plenária gaúcha fosse realizada em um local central e se diversos setores não tivessem boicotado esta, certamente a participação da delegação gaúcha no FBES seria muito mais plural e representativa de nosso estado.

2) A Acusação de que havia boicote e xenofobia da parte da coordenação nacional aos gaúchos
Primeiro, nossos dirigentes “iluminados” do Fórum Gaúcho acusam a comissão de sistematização de boicotar o RS, sem esclarecer o que houve com nosso relatório. Se não fosse a critica interna que fizemos e aos esclarecimentos vindos da Secretaria Executiva nacional, até agora todos os delegados gaúchos estariam acreditando que fomos vitimas. Mal chegamos à plenária nacional e na nossa primeira reunião, havia toda uma tentativa de fomentar um clima de “nós gaúchos” contra “eles” da coordenação. Pode até ter havido má vontade da coordenação para com certos “iluminados” nossos, mas como se diz, “a gente colhe o que planta”.
De fato, havia uma grande má vontade de muitos delegados da plenária para com “os gaúchos”, mas na minha opinião, esta má vontade foi resultado de nossa petulância na forma de agir (questões metodológicas que vou discutir mais a frente) e da própria forma como nossos delegados foram orientados por nossos “iluminados”, onde ao invés de fomentar um espírito de solidariedade e compreensão, a todo momento eram tencionados a “lutar pelos gaúchos”. Somando isto a um sentimento de superioridade que de xenofobia dos gaúchos em relação a outros estados brasileiros (neste ponto me referido aos gaúchos em geral, não necessariamente aos delegados, embora tenha havido na plenária, da parte de gaúchos manifestações como: “cabeça-chata sem vergonha” ou “cabeça chata é tudo ladrão”), o resultado não poderia ser diferente.
Portanto, se houve preconceito de outros estados em relação aos gaúchos, foi muito mais uma reação a nossa postura (político-metodológica, e mesmo pessoal, de algumas de nossas lideranças). E o argumento de discriminação, disseminado por nossos “iluminados”, serviu muito mais para organizar uma “bancada” e dar argumento para desgastar a coordenação executiva do FBES, ou seja, preparar o terreno, desde o primeiro dia de plenária, para os movimento e politicagens da plenária final.

3) Porque o texto “Programa de Desenvolvimento Democrático e Socialista” não foi aprovado no Documento Final da Plenária Nacional (questões político-metodológicas).

A tradição da esquerda, especialmente dos setores ligados a forças políticas que adotam o “centralismo democrático” (como PCdoB, o PSTU e/ou diversas correntes internas do PT, como a DS) tem sido a de atribuir todo papel revolucionário a vanguardas esclarecias, que formam um modelo ideal e buscam convencer os trabalhadores e movimentos sociais a adotarem e lutarem por estes modelos. Poderíamos fazer um amplo debate se este era o Centralismo Democrático de Lênin ou Trotski, mas fugiria de nosso objetivo. Simplesmente opino que esta é mais uma visão stalinista do processo.
O fato é que as forças políticas que adotam esta concepção, pretendem “dirigir” os movimentos sociais, utilizando estes como uma espécie de correia de transmissão das suas idéias partidárias. Eu não questiono a legitimidade disto, mas sem dúvida, esta é uma forma de agir, de modo geral, estranha ao Movimento de Economia Solidária (embora comum em outros organismos de luta política social).
Me parece que o Movimento de Economia Solidária se caracteriza muito mais por uma construção metodológica que rejeita modelos, que busca construir, a partir de necessidades e realidades, uma nova forma, plural, democrática e transformadora, de organizar a sociedade.
Para as forças políticas que defendem modelos, a pluralidade esta garantida na participação de representantes de todas as forças políticas. Por isso rejeitam a idéia do Fórum como um movimento, pois sendo um movimento, apenas participariam deste aqueles setores que efetivamente fazem parte do movimento. Exemplificando: Todos nós defendemos a Reforma Agrária, mas somente aqueles de nós que estão nos acampamentos e assentamentos do MST podem participara da direção. O MST não convida o Governo Federal para sua coordenação executiva, ao contrário, ele se mobiliza pra pressionar o governo.
Para os setores que defendem uma construção efetiva pela base é também importante uma pluralidade de atores, porém, sem que estes sejam dominados por estruturas partidárias ou governamentais.
Como esta diferença se explicitou na rejeição ao texto e mesmo a proposta de bandeira apresentada pelo FGEPS?
Simples, a maior parte dos delegados não se sentiu a vontade para incluir um texto, que não foi discutido, emendado, recortado, como ocorreu com os demais. Ou seja, a grande maioria dos atores da ES, ao menos dos presentes na plenária, não gosta de idéias prontas e fechadas, que não dialoguem com sua realidade e mesmo que não sejam inteligíveis. É uma ingenuidade? Pode até ser, mas reflete uma forma de pensar e agir complexa, plural, que é fundamental para a esquerda brasileira e mundial.
Se nosso objetivo fosse simplesmente aprovar o melhor programa de luta política social, era melhor convidar uma equipe com intelectuais da Economia Solidária, tranca-los numa sala até eles produziram um documento, depois era só ler e aprovar. Certamente seria bem melhor do que nossas construções. Mas e onde fica o processo de formação, o crescimento das pessoas, etc.
Muitas forças políticas respondem com formação, mas esta formação muito mais voltada a convencer a base de que este é o melhor modelo, do que a trabalhar a construção de um modelo.
Para além disso, posso exemplificar coma fala de uma companheira paulista, que interviu em uma discussão dos “gaúchos” dizendo com clareza: Não briguem, vocês não perderam porque um de vocês disse algo errado, vocês perderam porque a mesa começou a defender a proposta e porque aquele outro rapaz (apontado pro Milton, que estava distante) quer impor as coisas pra gente”.
Aproveitando que dei esse exemplo, quero relatar uma das violências que sofri na plenária, por parte de companheiros nossos do RS. Não tenho porque me fazer de vitima, porque sei me defender politicamente, mas gostaria que todo nosso estado soubesse com clareza como me posicionei em relação ao referido documento.
Primeiro, no GT que eu participei, inclusive coma presença do companheiro Alex, do Brasil Local e quilombola, eu fiz uma apresentação das idéias chaves do documento, inclusive relatando que este não havia sido integrado ao documento base por um problema de nossa relatoria, mas que eu e os demais gaúchos estávamos apresentando suas idéias chaves. Além do documento, claro, também trabalhei com as demais propostas de nosso quadro síntese, no eixo PCCs. No grupo, algumas coisas foram aprovadas, outras não, como nossa discussão central no grupo era sobre Sistema Nacional de Comercio Justo e Solidário, dei mais peso a idéia dos mercados socialmente orientados. Foi uma longa tarde de construções muito fraternas e proveitosas com companheiros de vários estados.
No dia seguinte, na mini-plenária, em um dos grupos, o documento foi apresentado como aprovado na integra (o que eu não tenho duvida que seja verdade). Porém era o grupo que companheiros como Richard e Milton estavam, sendo que os companheiros usaram toda sua capacidade política para aprovar. E isto é legitimo. Porém, integrantes do próprio grupo se manifestavam dizendo: “foi aprovado, mas eu não entendi”. Havia muita rejeição na plenária pela inclusão do longo texto no documento. Integrantes da mesa, no caso o João Correia e a companheira que representa a Marcha Mundial das Mulheres (não tenho certeza se ela tem formalmente esta função e não sei o nome dela, mas tenho certeza que todos os delegados lembram quem é) fizeram a defesa do texto, sem se inscrever, utilizando-se da prerrogativa de mesa. Além disso, claro, nossos colegas Milton e Richard estavam “de corpo e alma” na briga pelo texto, fazendo intervenções, etc. Importante registrar que outros companheiros de outros estados também.
Eu estava sentado com os integrantes do meu Grupo de Trabalho (GT), sendo que o pessoal começou a me perguntar se o texto que se discutia era o que eu havia falado no grupo. Nesse momento eu já estava escrito pra defender que o texto fosse aprovado, mas que fosse aberto para discussão parágrafo por parágrafo, com emendas, como os demais. Aproveitei a duvida de meus colegas próximo e imaginei que seria bom contextualizar o processo de construção do texto, pra mostrar que era uma contribuição importante, mas que também deveria ser aprofundado. Então, na minha fala, resgatei que foi uma contribuição inicialmente proposta por Milton e Luciano na Plenária Gaúcha (importante registrar que no caderno do RS, elaborado por nossa coordenação, consta ainda a autoria dos dois companheiros, e que foram eles mesmo que distribuíram esta informação, portanto, na plenária), de onde foram tirados resoluções no quadro síntese e que o texto mesmo foi aprovado pra fomentar o debate, e que era o texto que havia sido distribuído no dia anterior e apresentado pelo Milton, sendo que eu estava defendendo o mesmo, mas queria a inclusão no documento final após um debate mais aberto dos delegados, com emendas, se necessário.
Houveram várias falas, passou quase uma hora, a briga pelo texto foi grande, mas ao final, foi aprovado a inclusão do mesmo na mini-plenária, sendo que faltava ainda a aprovação na plenária final. A mesa foi destituída (o Mance assumiu a coordenação dos trabalhos na mini-plenária). Foram votados os eixos, sendo que no GT onde o texto havia sido aprovado, também foi criado uma nova bandeira que dava conta de sintetizar a prioridade do eixo (não tenho a redação no momento, mas Milton ou Richard podem repassa-la). E, após longa e acalorada discussão, esta bandeira NÃO foi aprovada. Inclusive eu havia alertado para o Milton que, sem aprofundar a discussão, dificilmente o texto passaria na plenária final, perderíamos assim como perdemos a bandeira.
E foi o que aconteceu no dia seguinte, na plenária final referente às bandeiras. Nosso texto (eu o assumo também) não foi aprovado no documento. Esta foi uma das primeiras votações, depois vieram muitas outras e na hora do intervalo, o companheiro Richard passa por mim dizendo: Você é um irresponsável! Por tua causa nosso texto não foi aprovado, você traiu o RS e por ai vai. Conhecendo o Richard, eu até ignorei num primeiro momento, mas quando sai pra fora do auditório e me aproximei de um grupo de nossos delegados, onde o Richard estava, ele continuava me acusando para os demais (lembro a todos que houveram 4 mini-plenárias e portanto, nem todos os gaúchos sabiam o que de fato havia acontecido, pois estavam nas demais). Na hora eu comecei a pedir o direito de explicar minha posição e a discussão foi feia. Confesso que nem vi o que de fato acontecia, só queria falar, mas pessoas amigas vieram me dizer que parecia que estávamos de briga. Foi inclusive nesse momento que aquela companheira paulista se manifestou. E tudo isto ocorreu no sábado pela manhã, em frente ao auditório.
Contei esta história, não apenas para esclarecer o que houve, mas também para apontar que a pressão para cima de quem não pensava igual em tudo e se dispunha a falar publicamente era grande. Em outros momentos, muitas vezes ouvi comentários extremamente depreciativos e machistas, buscando desqualificar companheiras de nossa delegação, por divergirem. E o que mais me surpreendeu é que estes vieram também de mulheres. A disputa não era política, era de baixo nível mesmo. Se eu não fosse “macaco-velho”, me jogava em um canto e ficava quieto. Mas eu sei que era justamente isto que as provocações queriam ao atingir as pessoas e aqui vemos novamente uma forma truculenta e nefasta de fazer política, que não podemos admitir na Economia Solidária.
Por tudo que ocorreu, em especial as coisas que dizem respeito à discussão do documento, que já havia sido motivo de polemica em nossa plenária gaúcha, me parece lógico que não havia como o mesmo ser aprovado. Agora, o fator determinante, na minha opinião, é que as pessoas não conseguiram visualizar a idéia de Câmaras Setoriais, as explicações realizadas pelo Milton não foram boas didaticamente. Soma-se isto a postura da “bancada gaúcha” e temos o resultado, que serviu para nossos “iluminados” reforçarem entre nós a idéia de que eram “nós gaúchos” e “eles”, aumentando o clima de tensão no domingo.

4) A Votação da Plenária Final e o tumulto causado.

Nesta plenária Nacional era difícil manter uma estabilidade emocional, pois quando se estava nos GTs, ou quando se conversava com as pessoas de outros estados, era fantástico. Muitas experiências de economia solidária, muitas lutas, muitas dificuldades, mas acima de tudo alegrias.
Porém, quando me aproximava de muitos (a maioria até) companheiros gaúchos, o clima era de tensão, de stress, de perseguição. Faço justiça ao Luciano, que nesse sentido me parece, tentava não personalizar as coisas, e também ao Milton, que tentava ensaiar uma mudança de postura em muitos momentos, mas que quando esta perdendo votações, perde junto a tranqüilidade. Mas embora essa ressalva, ambos são responsáveis pela construção do que houve, juntamente com outros dirigentes “iluminados” de alguns estados e de organizações. Os demais delegados gaúchos, me parece, viviam o mesmo clima, alguns, a todo momento provocando, e outros, a todo momento alternando o humor, porque sentiam que algo estava errado, mas talvez, preferissem acreditar na tese do “boicote”.
Na Plenária Final, a Comissão de Sistematização apresentou um excelente trabalho, fruto da construção de vários GTs, que duraram entre 8 e 10 horas de discussão no sábado. As questões polemicas estavam claras, a mesa conseguia encaminhar com tranqüilidade a maioria dos pontos. Tivemos até momentos de descontração entre os gaúchos, pois várias vezes Eu e Ana Mercedez divergíamos de alguma votação, Milton votava com Ana, Tere comigo.
Algumas votações a gente conversava com quem estava próximo, cada um opinava sobre aquilo que mais entendia. Houveram votações tensas, como por exemplo, a dos movimentos sociais. Mas tudo ocorreu relativamente tranqüilo em nossa delegação, que até o momento, sentava toda reunida no lado esquerdo do plenário, junto a outros companheiros de outros estados, que na maioria das votações acompanhavam o Milton e que haviam, nos grupos, defendido as posições, que de agora em diante, chamarei de “governistas”.
Num ponto mais à frente, quero discutir o processo democrático e o papel de uma plenária estadual, dos delegados e do direito as minorias, porque muitos falam em democracia, mas o conceito de democracia que conhecem é, além de incoerente, limitado a centralizar e enquadrar de acordo com seus interesses.
Até a hora do tumulto, a votação mais polemica, se não me engano, havia sido a questão da participação dos movimentos sociais. Houve muito debate sobre o conceito de suprafamiliar, por exemplo, mas foi tranqüilo. A votação do critério territorial também foi polemica, mas tranqüila. Foram dois itens, por exemplo, que tanto Eu, como Milton, Luciano e praticamente todos os gaúchos, votamos juntos. Tivemos divergências no numero de estados apenas.
Varias questões, que eu até esperava polemicas, como a questão do papel e da representação dos gestores, foram surpreendentemente tranqüilas. O pessoal já estava cansado e parece que não havia grande desacordo entre a “Coordenação Executiva” e os “governistas”.
Na polemica da coordenação executiva, vários setores ligados a coordenação executiva acabaram unificando suas propostas basicamente na idéia de manter como esta hoje, em termos numéricos e de participação de EES. Isto, sem dúvida, é um erro. O grupo “governista”, construiu uma proposta mais interessante, especialmente do ponto de vista dos EES, à medida que amplia a participação destes nesta coordenação. Eu poderia tranqüilamente votar nesta proposta. Mas havia um pequeno detalhe na resolução. Propunha a inserção de 2 Gestores Públicos na Coordenação Executiva (antes haviam sido aprovados 12 gestores na Coordenação Nacional), sendo um do GOVERNO FEDERAL.
Vejam a resolução na integra como foi posta em votação e consta no documento da sistematização, que todos os delegados possuem:

“3. Grupo F: Composição de 16 integrantes, sendo 7 representantes de empreendimentos (2 do nordeste, 2 do norte, 1 do sul, 1 do sudeste e 1 do centro-oeste), 3 de entidades de representação dos empreendimentos, 3 repres de ent de apoio e 2 gestores, sendo umd a rede e um do gov federal” (grifo meu).
Por principio eu sou contra um instrumento do Movimento de Economia Solidária, como é o FBES, ter em suas estruturas gestores públicos. Com gestores, nos conversamos nos Conselhos Públicos, esta é minha posição. Entendo que foi aprovada a inclusão dos gestores em rede. Porém, ninguém votou antes governo federal. Portanto, pior ainda, se um movimento que se decide por aumentar a pressão por uma nova proposta de desenvolvimento tiver entre seus integrantes, na coordenação executiva, alguém do governo federal. Este me parece mais um modelo facista, de sindicato controlado, no caso, o FBES não poderia atuar, sem um “olheiro” do governo.
Queria inclusive, registrar aqui duas coisas relacionadas a gestores públicos, que são exemplares, uma positivamente e outra negativamente. A negativa: muitos gestores, muitos militantes do PT (aqueles orgânicos) e também agentes do Brasil Local (lembro que até o momento sou um agente, porém não tenho condições políticas de me manter no programa), reproduziam (poucos com uma certeza do que falavam) de que se o FBES se torna-se um movimento, não teria mais o apoio da SENAES. Imagina o que um boato desses pode causar junto a pessoas mais humildes, que temem pelos seus EES e mesmo por toda construção do FBES até aqui.
Agora, temos o lado positivo. Houveram gestores (e especialmente gestoras) que diziam: “eu estou no governo, mas eu sou movimento” e votaram contra as determinações da própria rede de Gestores, tanto no sentido de ampliar de 1 (atualmente) para 12 gestores na Coordenação Nacional, como também a idéia da Inclusão do Gov. Federal na Coordenação Executiva.
Mas este espírito de defender a independência do movimento e criar uma relação honesta e de dialogo com a Economia Solidária prevaleceu pouco, tanto entre os gestores como entre os “governistas” (nem todo governista está no governo, mas eles dependem do governo, seja o federal ou estadual ou mesmo municipais). O que prevaleceu mesmo nesse setor foi à necessidade de controlar o FBES de todas as formas possíveis, inclusive tentando ser “os democratas”, quando necessário.
Quando foi realizada a votação, as defesas foram ruins, de ambos os lados, o povo estava cansado e num primeiro momento, a mesa encaminhou aprovação por contraste da proposta governista (que pretensamente era melhor para os EES). Eu, embora indignado com o resultado, estava me conformando e pensando o que fazer depois. Nesse momento, de surpresa, mais uma vez fui atacado, junto companheira Ana Mercedes. Vieram para nós dizendo: Vocês votaram contra os Empreendimentos!! Vocês são contra as bases, blábláblá!!
Mais uma vez fui pego de surpresa pela provocação e mais uma vez reagi, me levantando e indo até a pessoa que havia me atacado, questionado se ela sabia qual era minha posição, o porquê do meu voto. Ela, além de me debochar, ainda se fez de vitima. Enquanto eu rebatia esta provocação, já se podia notar que o plenário estava muito agitado, sobretudo os governistas (ah, todos os iluminados gaúchos estão entre os govenistas). Quando me sentei novamente, vi passar, o companheiro Lenivaldo, da Catende, rápido como um raio em direção a mesa, pedindo “questão de ordem”, rapidamente surgiu um tumulto no outro lado do plenário e a esta altura não havia quase mais ninguém dos governistas no lado esquerdo, estavam todos espalhados.
O Lenivaldo, a quem praticamente não conheço, a não se de ouvir suas intervenções na plenária, foi barrado por dois homens, ambos do meu tamanho (o que faz uma grande diferença, pois o companheiro Lenivaldo é baixinho). Isto ocorreu a poucos metros de onde eu e mais algumas pessoas estavam, no lado esquerdo. Era visível as expressões de briga, a truculência para impedir que este passasse, ouvia-se: VC não vai! VC não vai... O Plenário estava muito agitando, muitas pessoas conhecidas gritavam e gesticulavam, mexiam os braços, como em um congresso estudantil.
Lenivaldo conseguiu chegar a mesa, falou sua questão de ordem fora do microfone, mas junto a ele chegaram várias pessoas, em geral todos grandalhões, pressionado a mesa. O tumulto foi geral, mas após muito custo, a mesa conseguiu restabelecer a ordem no plenário e encaminhou a questão de votação com contagem. Esta foi feita, e deu muitos votos, tinha muito crachá levantado, considerando o horário. A mesa recebeu os resultados, contabilizou e anunciou. Ai deu os problema, pois passavam de 300 votos a soma de ambas as propostas. A partir daí, novamente crise, tumulto, ameaças de se retirar, etc.
Eu fiquei num primeiro momento até confuso: O que houve afinal? Mas rapidamente vieram os xingamentos: Cala boca cabeça chata! Cabeça chata ladrão! Estão nos roubando, etc. Pior é que tinha gente rindo muito. Por exemplo, aqueles dois que haviam tentado impedir o Lenivaldo, riam e pulavam para agitar o plenário, como se fossem animadores de festa.
Nossa Coordenação do FGEPS (aqui cito especialmente o Milton, que se esforçou, embora não acredite muito na sinceridade do ato) tomou uma atitude correta, chamou os delegados para discutir se nos retirávamos ou não. Eu e outros companheiros, coerentes com o que havíamos feito na Plenária do FGEPS em 2006, defendemos que não poderíamos nos retirar, que se tinha fraude ou coisa do tipo, tínhamos que “bater crachá”, votar de novo, mas com um método de entregar o crachá ou coisa que o valha e que se retirar não servira pra nada. Alguns companheiros não deram ouvidos e saíram, mas tanto os delegados gaúchos como a grande maioria de delegados que estava revoltada com o possível “golpe da mesa” se manteve em plenário, ao ponto que o Milton voltou a tentou fazer um encaminhamento, de coordenação provisória, que foi rejeitado.
Nesse momento, tudo já estava feito, não havia como desfazer o desastre final, nem como concluir as votações. Para quem vem do movimento estudantil, é fácil perceber nesse modus operandi a velha tática de desgastar e tumultuar, para depois negociar com vantagens. E é nesse ponto que estamos. A parte do desgaste e do tumulto esta feito, agora os governistas vão tentar negociar, vão chantagiar, vão usar suas maquinas partidárias e seus programas e políticas públicas.
O encaminhamento final do Bené foi o melhor possível: vamos deixar os fóruns estaduais decidirem. Mas cada pessoa que atua em fórum e esta confusa sobre o que aconteceu, terá que buscar se esclarecer muito bem, não apenas do que está escrito, mas do que esta por trás das resoluções aparentemente democráticas, o que esta por traz das palavras bonitas (democracia, socialismo).
Este é um exercício nem sempre fácil, pois na ES confiamos na palavra das pessoas, nas boas intenções, rejeitamos a manipulação. Mas, infelizmente, embora digamos que Outra Economia acontece, ela ainda se da neste mesmo mundo e esta sujeita a suas manipulações e violências.
Posso estar completamente errado nas avaliações feitas até agora, pois não existe donos da verdade, nem bom ou mal. Existem princípios, posturas, necessidades que ajudam a moldar tanto o caráter das pessoas, como dos coletivos, sejam políticos como econômicos. Por isso vou esperar outras avaliações e principalmente a postura das pessoas que, seja de um lado ou de outro, conduziram este processo, para ver quem a história absolverá.

Conclusão

Muitos outros tópicos necessitam ser desenvolvidos nesta avaliação, ela esta incompleta até mesmo para o que já tenho de acumulo de reflexão, pois foi o que mais fiz nos últimos dias, ficar pensando em como seria este debate.
Tudo que eu espero agora é que aquelas pessoas mais de base, que muitas vezes são desrespeitadas ou manipuladas, possam buscar elementos de avaliação, possam construir suas próprias avaliações sobre o que ocorreu.
Acredito que se isto ocorrer – e se as pessoas não cometerem o erro de se afastar, como fizeram outros companheiros gaúchos, poderemos reaglutinar nosso FGEPS, e mesmo considerando as proposições “iluminadas”, “governistas”, etc, que são fortes por aqui, poderemos recuperar um sentimento de solidariedade, o qual poderemos levar ao FBES, mostrando que mesmo com posições divergentes, é possível agir diferente.